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Entre a raiz e a flor

  • Foto do escritor: Elisa Moura
    Elisa Moura
  • 14 de nov.
  • 2 min de leitura
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Já estamos em meados de novembro, e eu ainda sigo tentando escrever sobre a primavera.

Mesmo tendo chegado no final de setembro, ainda me pego surpresa diante de cada flor, de cada folha verdinha que encontro pelo caminho — e aqui, cercada pela Mata Atlântica, são tantas.

É que esse recomeço sempre me surpreende — e sempre me enche de esperança.

Há uma árvore de ora-pro-nóbis na entrada da minha casa.

Estava caindo aos pedaços, coitada — ou ao menos era o que parecia.

As poucas folhas que restavam estavam amareladas, sem vida.

Minha madrasta olhou e achou que houvesse algo errado, talvez um fungo, talvez o fim.

Mas não.

Ela apenas seguia o seu próprio compasso — desfazendo-se do velho para que o novo pudesse chegar.

Encerrando ciclos para que outros pudessem começar.

E assim foi.

As folhas amarelas caíram, as novas brotaram, e, depois de um tempo, vieram as flores — rosinhas, delicadas, quase tímidas.

Hoje ela está cheia, linda, constantemente rodeada de abelhas recolhendo pólen.

O ciclo continua.

A vida segue.

Como deve ser.

Quando me mudei para cá, havia uma árvore totalmente seca bem em frente à casa.

Achei que estivesse morta.

Não havia um sopro de vida aparente em seu tronco — pelo menos era o que eu pensava.

Mas era só o tempo que precisava passar.

Com os meses e a chegada de uma nova estação, as folhas voltaram, e ela foi se enchendo de novo.

No verão, já era impossível lembrar daquela fase seca.

Ali estava ela: verde, cheia, viva — tudo no seu tempo, no tempo que precisava.

É que o nosso tempo, o tempo que queremos, é mesmo diferente do tempo da vida.

Há pouco tempo, fiz uma tatuagem: “Entre a raiz e a flor, há o tempo.”

Junto dela, uma florzinha delicada.

Um lembrete diário para minha mente ansiosa — essa mente inquieta que vive querendo enganar o tempo, passar à frente dele, espiar o que vem antes ou correr de volta ao que já foi.

Como se isso fosse possível.

A natureza tem me ensinado muito sobre o tempo das coisas.

A entender que existe o tempo do recolhimento, do silêncio, do preto e branco.

O tempo de viver sem esperar resultados imediatos.

Aquele tempo em que, aparentemente, nada acontece — por fora, tudo parece o mesmo.

Mas é dentro que a vida se move, silenciosa, preparando o novo.

A verdadeira mudança acontece assim: de dentro pra fora, sem alarde, sem ninguém ver.

E quando menos se espera, já chegou a próxima estação.

E com ela vêm novas cores, novos propósitos, novas histórias.

É que a gente precisa dessas pausas, desses hiatos —

para poder flores-ser.


Até a próxima,

Elisa

 
 
 

1 comentário

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Stella
14 de nov.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

A natureza sempre nos ensina sobre o tempo certo! 🌷

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